31 de mar. de 2015

O esgotamento do modelo baseado no consumo

Por Matheus Rabelo*

O atual clima de instabilidade tanto política quanto econômica que o Brasil vive hoje e que repercute sobre todas as esferas da sociedade em formas de resultados econômicos pífios e em consequência, insatisfação, protestos, etc. é resultado das políticas econômicas contra-cíclicas utilizadas como forma de tentar imunizar o país contra a crise sistêmica mundial de 2008 e que moldaram um modelo de crescimento baseado no consumo.


O tipo de política econômica adotado à época era uma forma de responder a crise mundial, que, a priori, impactaria negativamente o país em termos de produto e emprego. O governo, então, decidiu por uma combinação de políticas que estimulassem a demanda agregada por meio do consumo. Elevou o déficit público, principalmente fazendo cortes em tributos associados ao consumo, tal como o imposto sobre produtos industrializados (IPI).


O incentivo ao consumo através da redução do IPI possibilitou uma situação favorável em muitos setores, dentre eles, os fabricantes de produtos da linha branca e a indústria automobilística, que por sua vez foram capazes de manter seus trabalhadores empregados e até mesmo contratar mais. Isso tudo em meio à crise mundial – por isso “política econômica contra-cíclica”.


A política monetária, por sua vez, também teve como objetivo o estímulo ao consumo. A redução da taxa de juros por meio de políticas expansionistas, fez com que o crédito ficasse mais barato, que claramente constituiu-se forte estímulo à demanda agregada através do consumo.


 Essa combinação de políticas, apesar de ter feito com que “a tsunami da crise parecesse uma marolinha” para o Brasil, ou seja, enquanto o mundo entrava em recessão, pudemos manter nossas taxas de crescimento e até mesmo alcançar a expressiva taxa de 7,5% em 2010. Muito devido ao crescimento do consumo das famílias e também pelo resultado do balanço de pagamentos, que foi puxado pelas maiores importações da China de produtos brasileiros – principalmente commodities.
No entanto, esse tipo de modelo baseado no consumo é claramente um modelo de curto-prazo.  O estímulo do consumo através da redução de tributos aumentou o endividamento público por um lado e por outro, o barateamento do crédito que permitiu que as famílias comprassem mais em um primeiro momento, não havendo crescimento proporcional nas suas rendas, fez com que aumentasse também o endividamento das famílias.


Em nenhum momento, além do fracassado plano de aceleração do crescimento, desenhou-se uma política que estimulasse o investimento. Ação que seria importante para melhorar tanto a qualidade da nossa infraestrutura quanto para ampliar a capacidade produtiva. Já que não houve ampliação da capacidade produtiva vis à vis um aumento da demanda agregada, esse deslocamento da demanda em relação a oferta agregada gera o que é conhecido como inflação de demanda.


O maior endividamento público faz com que o governo tenha que financiar sua dívida através da emissão de títulos. A capacidade do governo de honrar o pagamento da sua dívida junto aos seus emprestadores é um dos principais indicadores do país ser favorável ou não a investimentos. É certo que um montante da dívida cada vez maior, faz com que a incerteza sobre a capacidade de honrar suas dívidas seja cada ver maior, e é esse o caso do Brasil hoje. Essa capacidade é medida por agências de classificação de risco, como a Standard’s and Poors, que na semana passada manteve a nota de grau de investimento do país.


O esgotamento do modelo é caracterizado hoje por:


(i)                  Aumento da inflação, tanto a causada pelo deslocamento da demanda frente à oferta (inflação de demanda) quanto a causada pelas expectativas, pois, os resultados que a autoridade monetária passou a entregar à sociedade em termos de inflação fizeram com que os anúncios de convergência para o centro da meta não fossem mais críveis;


Fonte: IBGE. Elaboração própria.


(ii)                Situação insustentável da dívida pública, provocada por estímulos à demanda agregada visando a manutenção do consumo;


(iii)               Baixo nível de produto e emprego. O resultado do PIB em 2014 – 0,1% - reflete a falta de investimento no país, que é a componente que sustenta o crescimento no longo-prazo. O menor nível de produto consequentemente leva a menores níveis de emprego, onde a taxa de desemprego medida pela PME-IBGE chegou a 5,9% no mês de fevereiro desse ano;

(iv)              Crise política e institucional que em grande medida foi provocada pelos pífios resultados econômicos recentes e também pelos escândalos de corrupção que permeiam o Brasil de hoje;

Com isso, a situação que os gestores de política econômica enfrentam é bastante complexa. Já tiveram a percepção de que o modelo baseado no consumo não é mais sustentável e a solução seria deslocar o eixo do crescimento do consumo para o investimento – que sustenta o crescimento econômico no longo-prazo - mas essa não é uma tarefa fácil. A primeira medida para que haja esse deslocamento é o ajuste fiscal anunciado pelo ministro da fazenda Joaquim Levy – meta de 1,2% de superávit primário em 2015 – pois isso influencia as decisões de investimento, porque fortalece a capacidade do governo em honrar seus compromissos. Além disso, deve-se pensar em uma agenda séria para que haja a retomada dos investimentos e combater a inflação, com o objetivo de termos crescimento sustentável com baixa inflação, aumentando o bem-estar social.





*Graduando em Economia-UFF

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