A economia de um país é análoga á economia de
uma empresa. Quando sofre um crescimento ao longo do tempo, não consegue operar
com a mesma “salinha” antiga, precisa ampliar a frota de veículos para o
transporte de mercadorias, aumentar o número de funcionários e investir em
maquinários mais apropriados. Caso não aplique tais medidas, a empresa
simplesmente não cresce, perde rendimentos e oportunidades.
É exatamente neste cenário que o Brasil está
imergido. O país cresceu e avançou demais, contudo, investimentos em
infraestrutura não acompanharam e nem deram chance ao potencial da nossa pátria, os governos
mantiveram outras prioridades e, hoje, o Brasil não atinge o crescimento,
demonstrando problemas estruturais graves e básicos. O nosso papel é analisar
de que forma a falta de infraestrutura trava o nosso crescimento e eleger os
fatores responsáveis, identificando nossas falhas.
Inicialmente, aparece a questão do
escoamento, da logística de transporte de pessoas e mercadorias por todo o
território. Um país sem uma boa capacidade de transporte e circulação de seus
produtos, com certeza não apresentará um alto potencial de crescimento. A
demora e, em algumas ocasiões, a perda de mercadorias, elevam os custos das transações,
inviabilizam operações entre empresas, atrasam o progresso e perdem
oportunidade de vendas.
O transporte brasileiro é primordialmente
rodoviário e, portanto, primitivo. Os caminhões elevam demasiadamente os
custos, são altamente poluentes e lentos, além de que inviabilizam muito o
trânsito em rodovias e centros urbanos. O transporte rodoviário é ideal para
pequenas distâncias, para atingir aqueles locais que não são cobertos por
malhas ferroviárias e essa é a logística sensata, um sistema nacional de
transportes com malhas ferroviárias completas, sendo complementadas
regionalmente por serviços rodoviários. Porém, nisso chegamos a outro problema.
Quais são os lugares atingidos por malha ferroviária no Brasil? Nossas
ferrovias são escassas, os maiores avanços foram feitos por D. Pedro II. Portanto, o Brasil deve investir em ferrovias
e planejá-las de forma inteligente. Hoje as ferrovias não possuem um modelo de
logística, o transporte de mercadorias e escoamento para o exterior são, por
isso, muito prejudicados.
A malha ferroviária no Brasil possui 27.782
quilômetros, porém, apenas um terço é produtivo, o resto é subutilizado. Na
época do Império, a malha ferroviária era um terço da existente nos dias de
hoje e toda a malha era produtiva. Portanto, a malha ferroviária produtiva no
Brasil atual é a mesma da época do império. Por outro lado, a malha ferroviária
dos EUA é de 226 mil quilômetros e a argentina, muito menor e menos
desenvolvida que o Brasil, possui mais de 35.000 quilômetros de ferrovias. O
gráfico abaixo demonstra uma comparação negativa para o Brasil. Possui um
transporte claramente baseado em rodovias, sendo que quase nenhuma destas é
pavimentada.
Fonte: Banco Mundial. |
Ainda na questão do transporte, deve-se
salientar que faltam portos. Em todo período de safra agrícola, filas
extraordinárias de caminhões (ferrovias amenizariam o problema) se põem em
direção ao Porto de Santos, cargas são perdidas e encomendas chinesas bilionárias são canceladas. Falta
acesso fácil aos portos, o que explica a opção dos produtores do centro-oeste
escoarem suas mercadorias pelos portos do Sudeste e não pelos nordestinos e
nortistas. Faltam estradas de qualidade, duplicações de rodovias, suportes na
beira da estrada para caminhões. Tudo isso onera bastante as empresas e trava o
crescimento.
Uma segunda questão são as recorrentes faltas
de abastecimento de água por todo o território nacional e, por incrível que
pareça, não é razoável supor que seja apenas culpa das condições naturais. O Brasil possui 8% de todo o volume de
água doce do mundo. Se tem um lugar onde seria improvável a ocorrência de
problemas dessa natureza é o nosso país, mas, mesmo assim, a falta de
infraestrutura nos submete a esses algozes. Existem várias técnicas de
engenharia para transposição e abastecimento de água. É claro que a seca, a
falta de chuva contribui em muito para este cenário, mas o homem pode ao menos
amenizar bastante a situação e, para isso, faltam investimentos. As companhias
não estão preparadas e é tarefa do governo garantir o abastecimento de água
para a população. O Japão é extremamente preparado para receber um terremoto e,
algo que parecia ser inevitável se tornou, com investimentos, bastante possível.
A falta de água afeta, mais do que se
imagina, a produção e o crescimento. Com um eventual racionamento, as indústrias
são obrigadas a trabalhar com capacidade reduzida, e a agropecuária, grande
linha de frente de nossa produção, com
grande participação no PIB, sai
muito afetada com tais entraves. Qual incentivo há para um investidor colocar
seus ativos em um país estruturado desta maneira, que não consegue lhe fornecer
o básico?
Além da falta de água e, junto com ela, vem a
gravíssima falta de energia. Quando o nível dos reservatórios baixa, as
hidrelétricas deixam de operar com normalidade e, com isso, há queda na produção
de energia e prováveis racionamentos. A essência deste problema é a dependência
das hidrelétricas. Não há diversificação de matriz energética no Brasil e
quando há alternativas, são por meio de termelétricas, muito mais caras e
poluentes ou investimentos pequenos em outras fontes, mas que apresentam
problemas de gestão. Um exemplo, é o caso de postos de energia eólica no
nordeste que já estavam prontos e gerando energia, mas não havia as linhas de
transmissão. O gráfico abaixo evidencia este problema de falta de
diversificação de fonte energética no Brasil. O problema é tão grave que quando
falta água, falta energia e, dessa forma, como nossas indústrias e empresas em
geral, produzirão? Como nossa agricultura cumprirá o seu papel? As indústrias
estão dando férias coletivas para seus funcionários, e a falta de energia e
água é um grande contribuinte dessas ações.
Fonte: Energy Information Administration, 2008 |
De outro ponto, há a ausência de
infraestrutura humana. As escolas e faculdades não conseguem “produzir” bons
profissionais. O governo e as empresas são feitos estritamente de pessoas e, se
estas estão preparadas, tudo correrá com perfeição. Não podemos esperar
logísticas e estruturas eficazes se nossas universidades exibem problemas e
incríveis faltas de estrutura. A mão de obra também é um fator de produção e o
Brasil não parece estar investindo nela.
Ao lado de todas essas engrenagens quebradas,
temos um ambiente fiscal e político que afasta as unidades produtivas em nosso
país. Impostos e juros altos, mesmo que necessários, corrompem a estrutura de
empresas e indústrias, travam o crescimento e afastam investidores. Podemos ver
no gráfico abaixo a correlação entre carga tributária e PIB no Brasil. O
coeficiente de correlação entre as duas variáveis é 0,78, demonstrando uma
relação impressionante e comprovando a trava no crescimento que os impostos
efetuam, seja comprimindo o consumo, seja minando o investimento. A carga
tributária bruta trimestral total foi obtida junto ao IPEA. O PIB real foi
obtido junto ao IBGE.
Fonte: IBGE/IPEA. |
A burocracia, os desvios de verba, a falta de
estabilidade regulatória e o não cumprimento dos contratos evidenciam a os
problemas por debaixo da falta de infraestrutura. Esses elementos servem de cenário para uma situação
caótica, demonstram falta de infraestrutura fiscal e representam um quadro
negativo para o investidor produtivo.
Por outro lado, o governo tem dado indícios de que se preocupa
com a infraestrutura nacional. Esses indícios se manifestam por meio dos
Programas de Aceleração do Crescimento, as concessões para portos e aeroportos,
transposição de rios, construção da ferrovia Ferro Norte, além de ampliação de
fontes energéticas. Por exemplo, o IPEA apontou falhas no modelo de
privatização das ferrovias brasileiras, indicando uma falta de estímulo de
investimentos, não propiciar melhor utilização da malha ferroviária e não
permitir concorrência entre as concessionárias. “Há realmente problemas nos
modelos, mas que estão sendo discutidos. Desde que o governo apresentou um novo
plano, as concessionárias, os investidores, agências passaram a dialogar. Isso
é uma esperança de chegar a um modelo atraente para todos”, afirmou Rodrigo
Vilaça, Vice-presidente de relações institucionais da Associação Brasileira de
Logística. Essas iniciativas podem
representar perspectivas positivas para o futuro, isto é, se os desvios de
verba e a burocracia não atrasarem nem onerarem demais tais projetos.
Com essa análise, pudemos perceber que nossa
infraestrutura é realmente falha e quais são os fatores responsáveis por
tamanha improbidade. Pudemos apresentar uma combinação de fatores que afasta o
investidor, o produtor e a competitividade do Brasil. Este não é um país para
se aplicar investimento físico no momento, não é um país que crescerá antes de
mudanças cruciais. O investimento privado cai, levando a produção e derrubando
a economia. O gasto público se eleva, num cenário de Crowding-out, sinalizando
um aumento preocupante da participação de um governo leviano nos investimentos.
Falta investir corretamente, dando prioridade à infraestrutura, pois o crescimento econômico depende dela
e este é o nosso desafio para os próximos anos.
*Graduando em Economia-UFF