22 de jun. de 2015

Uma estimação da diferença salarial aproximada entre homens e mulheres no estado do Rio de Janeiro

Por Matheus Rabelo*

É de conhecimento geral que houve um aumento significativo das mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos no Brasil. Muitas outras questões são colocadas a partir desta constatação e uma delas diz respeito à disparidade salarial entre homens e mulheres. O objetivo deste texto é tentar responder à pergunta: homens e mulheres realmente ganham salários diferentes no estado do Rio de Janeiro?


Vamos tentar responder a essa pergunta utilizando microdados da PNAD contínua – IBGE – referentes ao primeiro trimestre de 2015. Construímos a base de dados apenas com informações do estado do Rio de Janeiro e restringimos a amostra para indivíduos entre 15 e 65 anos. Após todos os ajustes, ficamos com uma amostra que contém 17256 observações.[1]


Agora, estimamos uma equação minceriana de determinação de salários, que é o modelo proposto por Jacob Mincer’s (1974) para estimar retornos à educação, retornos à qualidade da educação, retornos à experiência, além de outros atributos, como sexo. [2]


Testes de Heterocedasticidade
P-valor
Rejeito H0?
White
0,000
Sim
BP
0,000
Sim


A partir dos testes White e BP, onde a hipótese nula é de que o modelo é homocedástico, isto é, tem variância constante, concluímos que a um nível de significância de 1% temos evidências de que há heterocedasticidade e de que devemos estimar um modelo que leve isso em consideração de modo a evitar problemas de inferência.

Uma forma de corrigir o problema de heterocedasticidade é estimar um modelo com erros padrão robustos à heterocedasticidade:


As variáveis utilizadas na especificação desse modelo são:

Variável dependente:

·     Logaritmo natural do RENDIMENTO MENSAL EFETIVO;

Variáveis explicativas:
  •   DUMMYSEXO: variável dummy que assume valor 1 quando o indivíduo é do sexo masculino e 0 quando é do sexo feminino;
  •   ESCOLARIDADE: variável discreta que assume valores de 1 até 7, onde 1 significa sem instrução e 7 ensino superior completo;
  •    POSICAONAOCUPACAO: variável discreta que assume valores de 1 até 4 em que 1 significa “empregado”, 2 - “empregador”, 3 – “conta própria”, 4 – “trabalhador familiar auxiliar”;
  •    IDADE: variável que assume valores de 15 a 65, representa a idade do entrevistado;
  •    IDADEAOQUADRADO: é o quadrado da variável idade;

Com base nos resultados do modelo estimado corrigindo para heterocedasticidade, podemos concluir que há uma diferença estatisticamente significativa entre os salários de homens e mulheres – utilizando um nível de significância de 1%.

A conclusão desse breve estudo, portanto, é de que homens ganham em média um salário 36,59% superior ao das mulheres no Estado do Rio de Janeiro. Isso responde a nossa pergunta inicial, mas abre um espaço para outras discussões. Será que essa diferença se dá em todos os setores de atividade? Em um mesmo setor, será que ainda há essa discrepância entre homens e mulheres? Essas são as próximas perguntas que iremos tentar responder.


*Graduando em Economia-UFF

[1] Houve necessidade de excluir missing values da amostra também.
[2] Mais sobre a equação minceriana de determinação de salários: http://www.cps.fgv.br/cps/pesquisas/Politicas_sociais_alunos/2011/pdf/BES_EquacaoMinceriana.pdf

17 de jun. de 2015

Seminário de Análise Conjuntural - IBRE/FGV dia 15/06

Alguns membros do NEOC - Núcleo Econômico da Opção Consultoria - participaram do Seminário de Análise Conjuntural do IBRE/FGV na última segunda-feira, dia 15/06.

Você pode ter acesso a apresentação utilizada pelos economistas do IBRE no evento no link: http://portalibre.fgv.br/main.jsp?lumPageId=402880811DF9ADC4011E222C7F8275BB&contentId=8A7C82C54D34378F014D675BCF874E71

4 de jun. de 2015

Efeitos de uma elevação na taxa básica de juros.

Por Johann Soares*  

  Na noite de ontem, quarta-feira (03/06), o Copom decidiu por elevar a meta da taxa básica de juros em 0,5 p.p., alcançando um patamar de 13,75% ao ano. Tal valor não era observado desde dezembro de 2008 e é o maior desde agosto de 2006, quando, naquela ocasião, a Selic alcançava a meta de 14,25% ao ano (como visto no gráfico abaixo). Esta é a sexta elevação seguida introduzida pelo Copom na taxa básica de juros e representa mais um componente do pacote de ajustes realizado pela atual equipe econômica do país.
  A decisão do Comitê já vinha sendo prevista, nos dias anteriores, com exatidão pelo mercado. Porém, no início da reforma econômica, não se esperava um aperto monetário tão significativo, pois as expectativas eram que a equipe econômica, liderada pelo Min. Joaquim Levy realizaria os ajustes via política fiscal, contraindo o orçamento do governo e elevando impostos. Porém, tais medidas “fiscalistas” vinham sofrendo sérios obstáculos por conta da dificuldade de aprovação do congresso nacional e de setores da sociedade. Dessa forma, um aperto monetário mais incisivo se justifica como uma saída para atingir os objetivos econômicos, complementando o ajuste fiscal.



Fonte: Banco Central do Brasil.

  O aperto monetário introduzido pela elevação significativa da taxa Selic impacta a economia brasileira por uma série de canais, tais como as expectativas, crédito, investimentos (financiamento) e taxa de câmbio, sempre visando uma redução do déficit orçamentário e uma convergência da inflação para sua meta de 4,5% ao ano
  O primeiro desses impactos é a questão das expectativas. Quando o Banco Central realiza um aperto monetário fixando uma meta mais elevada para a Selic, os agentes identificam em tal política o comprometimento da autoridade monetária com as metas definidas para a inflação e, portanto, reconhecem que a tendência causal de tais medidas é uma redução futura desta taxa. Tal redução nas expectativas inflacionárias causam impactos no mercado financeiro e nos contratos de longo prazo, na medida em que estes são acordados com um reajuste menor (dois exemplos são os alugueis e os salários).
  No gráfico abaixo é perceptível que as expectativas de inflação para o ano seguinte começam a reverter após o longo ciclo de aperto monetário, mostrando que, para 2016, os agentes esperam uma inflação mais contida e estabilizada.[1]




    
  Ainda na questão das expectativas, temos um efeito paralelo que se traduz na credibilidade da autoridade monetária. Este fator pode ser explicado pela relação entre as metas de inflação e as expectativas inflacionárias. A meta de inflação definida pelo Banco Central é de 4,5% ao ano, com bandas aturáveis de 2 p.p., isto é, o teto e o piso da meta são 6,5% e 2,5% respectivamente. Um Banco Central possui mais credibilidade à medida que a expectativa dos agentes acerca da inflação converge para o centro da meta. Ou seja, os agentes acreditam que a autoridade monetária cumprirá a meta pré-estabelecida.
  Dessa forma, como a elevação da Selic reflete o comprometimento do Bacen em controlar a inflação, reduzindo as expectativas dos agentes, estas convergem naturalmente para o centro da meta dada uma elevação na taxa básica de juros, considerando tudo o mais constante. A maior credibilidade da autoridade monetária  é indispensável para uma política que tenha como objetivo a estabilidade inflacionária, pois será menos custoso para o Bacen atingir tal estabilidade. Dado que já existe uma meta predefinida para a inflação, a alta credibilidade imporá menor esforço de política monetária.
 Dessa forma, trazendo a questão para a recente elevação na taxa Selic, temos que o pressuposto básico é que a credibilidade baixa provoca uma maior volatilidade na taxa de juros. No gráfico abaixo podemos ver a relação entre a variação da taxa Selic[2] e a variação das médias diárias do índice de credibilidade[3] da política monetária. É evidente, a partir do gráfico, que quando o Bacen tem menos credibilidade é necessário um maior esforço de política monetária, explicando assim as seis elevações seguidas na Selic, introduzidas pelo Copom.




  
 
  Outro canal de impacto da taxa Selic é o que envolve crédito e condições de investimento. O impacto de uma elevação da taxa básica de juros no que tange as condições de crédito é uma maior dificuldade dos consumidores de contraírem crédito, visto que este se torna mais caro. Dessa forma, a elevação na Selic reduz o incentivo ao consumo, demonstrando uma inflexão na política econômica brasileira, no sentido de que deixou de ser um modelo baseado na demanda via consumo. Tal impacto é eficaz na redução da inflação, pois reduz o montante de demanda agregada. Outro componente da demanda agregada afetado pelas decisões do Copom é o investimento que, agora, se depara com condições de financiamento mais amargas, desestimulando as empresas nas suas decisões de investir. Tal efeito, assim como no consumo, causa uma redução na taxa de inflação.
  Porém, ambos os impactos na demanda agregada brasileira impõem um custo em termos macroeconômicos, no que se refere à redução da produção e do crescimento do país. Portanto, as autoridades monetárias se mostram disciplinadas a ajustar a economia com uma inflação mais estabilizada e um déficit orçamentário equilibrado, aturando certo grau recessivo no PIB.
   Por último, temos como efeito da variação na taxa básica de juros um impacto no câmbio brasileiro. O aperto monetário promovido pelo Bacen reduz o poder da demanda agregada, impactando negativamente no produto do país (como fora mostrado nos parágrafos anteriores). Tal redução provoca um efeito na balança comercial no sentido de diminuição do nível de importação vis à vis as exportações. Dessa maneira, sai menos dólar do Brasil, causando uma apreciação cambial, o que auxilia no combate à inflação fazendo as importações ficarem mais baratas. Outra intenção possível do Bacen acerca do câmbio é a redução do déficit em transações correntes (que já equivale a 4,5% do PIB) a partir da redução já explicada do nível de importações.
  O aperto monetário não deve cessar nesta última reunião do Copom, já que se julga que as políticas executadas até o momento ainda não são suficientes para atingir as metas estipuladas. Dessa forma, o mercado estima novas elevações na taxa básica de juros e aguarda a publicação da próxima ata do Copom para ajustar suas expectativas.
 

 



[1] Tanto a série da Selic quanto a série das expectativas foram obtidas a partir do site do Banco Central do Brasil.
[2] A série da Taxa Selic foi obtida no site do Banco Central do Brasil.
[3] O índice de Credibilidade aqui calculado foi segundo a metodologia formulada pelo professor Hélder Ferreira de Mendonça.


*Graduando em Economia-UFF,