Por Johann Soares*
Na noite de ontem, quarta-feira (03/06), o Copom decidiu por
elevar a meta da taxa básica de juros em 0,5 p.p., alcançando um patamar de 13,75%
ao ano. Tal valor não era observado desde dezembro de 2008 e é o maior desde
agosto de 2006, quando, naquela ocasião, a Selic alcançava a meta de 14,25% ao
ano (como visto no gráfico abaixo). Esta é a sexta elevação seguida introduzida
pelo Copom na taxa básica de juros e representa mais um componente do pacote de
ajustes realizado pela atual equipe econômica do país.
A decisão do Comitê
já vinha sendo prevista, nos dias anteriores, com exatidão pelo mercado. Porém,
no início da reforma econômica, não se esperava um aperto monetário tão
significativo, pois as expectativas eram que a equipe econômica, liderada pelo
Min. Joaquim Levy realizaria os ajustes via política fiscal, contraindo o
orçamento do governo e elevando impostos. Porém, tais medidas “fiscalistas”
vinham sofrendo sérios obstáculos por conta da dificuldade de aprovação do
congresso nacional e de setores da sociedade. Dessa forma, um aperto monetário
mais incisivo se justifica como uma saída para atingir os objetivos econômicos,
complementando o ajuste fiscal.
Fonte: Banco
Central do Brasil.
O aperto monetário
introduzido pela elevação significativa da taxa Selic impacta a economia
brasileira por uma série de canais, tais como as expectativas, crédito, investimentos
(financiamento) e taxa de câmbio, sempre visando uma redução do déficit
orçamentário e uma convergência da inflação para sua meta de 4,5% ao ano
O primeiro desses
impactos é a questão das expectativas. Quando o Banco Central realiza um aperto
monetário fixando uma meta mais elevada para a Selic, os agentes identificam em
tal política o comprometimento da autoridade monetária com as metas definidas
para a inflação e, portanto, reconhecem que a tendência causal de tais medidas
é uma redução futura desta taxa. Tal redução nas expectativas inflacionárias
causam impactos no mercado financeiro e nos contratos de longo prazo, na medida
em que estes são acordados com um reajuste menor (dois exemplos são os alugueis
e os salários).
No gráfico abaixo é
perceptível que as expectativas de inflação para o ano seguinte começam a
reverter após o longo ciclo de aperto monetário, mostrando que, para 2016, os
agentes esperam uma inflação mais contida e estabilizada.[1]
Ainda na questão das
expectativas, temos um efeito paralelo que se traduz na credibilidade da
autoridade monetária. Este fator pode ser explicado pela relação entre as metas
de inflação e as expectativas inflacionárias. A meta de inflação definida pelo
Banco Central é de 4,5% ao ano, com bandas aturáveis de 2 p.p., isto é, o teto
e o piso da meta são 6,5% e 2,5% respectivamente. Um Banco Central possui mais
credibilidade à medida que a expectativa dos agentes acerca da inflação converge
para o centro da meta. Ou seja, os agentes acreditam que a autoridade monetária
cumprirá a meta pré-estabelecida.
Dessa forma, como a
elevação da Selic reflete o comprometimento do Bacen em controlar a inflação,
reduzindo as expectativas dos agentes, estas convergem naturalmente para o
centro da meta dada uma elevação na taxa básica de juros, considerando tudo o
mais constante. A maior credibilidade da autoridade monetária é indispensável para uma política que tenha
como objetivo a estabilidade inflacionária, pois será menos custoso para o
Bacen atingir tal estabilidade. Dado que já existe uma meta predefinida para a
inflação, a alta credibilidade imporá menor esforço de política monetária.
Dessa forma, trazendo
a questão para a recente elevação na taxa Selic, temos que o pressuposto básico
é que a credibilidade baixa provoca uma maior volatilidade na taxa de juros. No
gráfico abaixo podemos ver a relação entre a variação da taxa Selic[2]
e a variação das médias diárias do índice de credibilidade[3]
da política monetária. É evidente, a partir do gráfico, que quando o Bacen tem
menos credibilidade é necessário um maior esforço de política monetária,
explicando assim as seis elevações seguidas na Selic, introduzidas pelo Copom.
Outro canal de
impacto da taxa Selic é o que envolve crédito e condições de investimento. O
impacto de uma elevação da taxa básica de juros no que tange as condições de
crédito é uma maior dificuldade dos consumidores de contraírem crédito, visto
que este se torna mais caro. Dessa forma, a elevação na Selic reduz o incentivo
ao consumo, demonstrando uma inflexão na política econômica brasileira, no
sentido de que deixou de ser um modelo baseado na demanda via consumo. Tal
impacto é eficaz na redução da inflação, pois reduz o montante de demanda
agregada. Outro componente da demanda agregada afetado pelas decisões do Copom
é o investimento que, agora, se depara com condições de financiamento mais
amargas, desestimulando as empresas nas suas decisões de investir. Tal efeito,
assim como no consumo, causa uma redução na taxa de inflação.
Porém, ambos os impactos
na demanda agregada brasileira impõem um custo em termos macroeconômicos, no
que se refere à redução da produção e do crescimento do país. Portanto, as
autoridades monetárias se mostram disciplinadas a ajustar a economia com uma
inflação mais estabilizada e um déficit orçamentário equilibrado, aturando
certo grau recessivo no PIB.
Por último, temos
como efeito da variação na taxa básica de juros um impacto no câmbio brasileiro.
O aperto monetário promovido pelo Bacen reduz o poder da demanda agregada,
impactando negativamente no produto do país (como fora mostrado nos parágrafos
anteriores). Tal redução provoca um efeito na balança comercial no sentido de
diminuição do nível de importação vis à vis as exportações. Dessa maneira, sai
menos dólar do Brasil, causando uma apreciação cambial, o que auxilia no
combate à inflação fazendo as importações ficarem mais baratas. Outra intenção
possível do Bacen acerca do câmbio é a redução do déficit em transações
correntes (que já equivale a 4,5% do PIB) a partir da redução já explicada do
nível de importações.
O aperto monetário
não deve cessar nesta última reunião do Copom, já que se julga que as políticas
executadas até o momento ainda não são suficientes para atingir as metas
estipuladas. Dessa forma, o mercado estima novas elevações na taxa básica de
juros e aguarda a publicação da próxima ata do Copom para ajustar suas
expectativas.
[1]
Tanto a série da Selic quanto a série das expectativas foram obtidas a partir
do site do Banco Central do Brasil.
[2] A
série da Taxa Selic foi obtida no site do Banco Central do Brasil.
[3] O
índice de Credibilidade aqui calculado foi segundo a metodologia formulada pelo
professor Hélder Ferreira de Mendonça.
*Graduando em Economia-UFF,
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