Atualmente o Brasil está presenciando uma
desvalorização de sua moeda, principalmente quando comparada ao dólar
americano. Tal fenômeno representa uma alteração da taxa de câmbio brasileira,
um indicador relevante para a macroeconomia do país. Quando ocorrem movimentos
drásticos na taxa de câmbio de uma nação (assim como o atual), as suas relações
e os termos de troca com o resto do mundo sofrem consequências, causando
impactos, mais especificamente, no Balanço de Pagamentos.
Neste estudo, o foco
será o impacto de uma desvalorização monetária na balança comercial de um país
com o intuito de entender como se dá esta dinâmica e de que forma ela aparece
na macroeconomia brasileira. Dada uma desvalorização do real, é natural pensar
que o saldo da balança comercial irá sofrer uma variação positiva, pois teremos
nossos produtos relativamente mais baratos que os do resto do mundo. Tal
mudança relativa nos preços fará com que a população interna demande menos os
produtos estrangeiros, reduzindo a importação. Por outro lado, as firmas e
agentes estrangeiros se interessarão mais pelos produtos brasileiros, já que
estes apresentaram uma redução relativa de preços, o que eleva o montante de
exportação. A elevação da exportação e redução da importação, em conjunto,
eleva o saldo da balança comercial.
A dinâmica
apresentada parece intuitiva, porém não está detalhada em sua completude e não
explica exatamente o que ocorre efetivamente em tais indicadores. O resultado
de uma elevação no saldo da balança comercial, na verdade, não é estabelecido
no curto prazo, de forma que a dinâmica de ajustamento da balança comercial
sofre outras alterações antes de apresentar este panorama.
Tal problemática
ocorre pelo fato de que preços e quantidade demandada não se ajustam de forma
equivalente a uma alteração cambial. Na dinâmica apresentada acima foram consideradas
as reações a uma desvalorização cambial em termos de quantidade demandada,
porém, não se levou em conta o efeito-substituição da mudança relativa dos
preços. Visto isso, é preciso entender quais são os efeitos de uma
desvalorização da moeda nacional:
(i)
Elevação das exportações, a depreciação torna os
bens brasileiros relativamente menos caros no exterior, causando um aumento na
demanda por produtos do Brasil.
(ii)
Redução das importações, a depreciação torna os
bens estrangeiros relativamente mais caros no Brasil, causando uma diminuição
na demanda por produtos do exterior.
(iii)
Elevação dos preços relativos dos bens
estrangeiros, o que aumenta a conta das importações ou, em outras palavras, a
mesma quantidade de importações agora é mais cara de comprar.
Portanto, há três
efeitos, sendo os dois primeiros em termos de quantidade demandada e o último,
em termos de preços relativos. Os efeitos em termos de quantidade demandada
ampliam o saldo da balança comercial (elevando exportação e reduzindo
importação), porém, o efeito em termos de preço contribui para reduzir este
mesmo saldo (aumentando o valor da importação). Dessa forma, com este último
efeito, pode-se afirmar que, após uma desvalorização da moeda nacional, no
curto prazo, há a deterioração do saldo da balança comercial e só depois este
saldo se ajustará com a atuação dois primeiros efeitos.
Essa dinâmica mais completa ocorre por causa
da diferença entre a reação de ajuste nos preços e nas quantidades demandadas.
Os preços relativos se ajustam imediatamente a uma desvalorização da moeda
nacional, porém a quantidade demandada pelos agentes sofre uma defasagem e
apenas responde a alteração cambial após um determinado período. Tal demora na
reação ocorre por vários fatores, como o fato de os indivíduos demorarem a
entender que os preços relativos mudaram e as firmas levarem um tempo para
mudar seus fornecedores.
Desta maneira, com a
dinâmica mais detalhada, é perceptível que uma depreciação na moeda nacional,
inicialmente, diminua o saldo da balança comercial, mas posteriormente este
saldo se ajuste e aumente em relação ao saldo inicial. Tal dinâmica entre a
taxa de câmbio e a balança comercial foi denominada pelos economistas como
“Curva J”.
No Brasil, ao se
relacionar a variação da taxa de câmbio em relação ao dólar com a variação do
saldo da balança comercial desde o ano de 1993, a defasagem entre tais
alterações fica perceptível, mostrando que a curva J é obedecida em nossa
conjuntura macroeconômica. Tal relação pode ser visualizada de maneira prática
no gráfico abaixo. Quando a taxa de câmbio se eleva (o dólar fica mais caro em
relação ao real, significando uma desvalorização de nossa moeda) o saldo da
balança comercial continua caindo e só depois de um determinado período passa a
se elevar. O contrário ocorre quando a moeda brasileira se valoriza em relação
ao dólar.