28 de abr. de 2015

Uma análise aprofundada da relação câmbio-balança comercial

Por Johann Soares


   Atualmente o Brasil está presenciando uma desvalorização de sua moeda, principalmente quando comparada ao dólar americano. Tal fenômeno representa uma alteração da taxa de câmbio brasileira, um indicador relevante para a macroeconomia do país. Quando ocorrem movimentos drásticos na taxa de câmbio de uma nação (assim como o atual), as suas relações e os termos de troca com o resto do mundo sofrem consequências, causando impactos, mais especificamente, no Balanço de Pagamentos.


  Neste estudo, o foco será o impacto de uma desvalorização monetária na balança comercial de um país com o intuito de entender como se dá esta dinâmica e de que forma ela aparece na macroeconomia brasileira. Dada uma desvalorização do real, é natural pensar que o saldo da balança comercial irá sofrer uma variação positiva, pois teremos nossos produtos relativamente mais baratos que os do resto do mundo. Tal mudança relativa nos preços fará com que a população interna demande menos os produtos estrangeiros, reduzindo a importação. Por outro lado, as firmas e agentes estrangeiros se interessarão mais pelos produtos brasileiros, já que estes apresentaram uma redução relativa de preços, o que eleva o montante de exportação. A elevação da exportação e redução da importação, em conjunto, eleva o saldo da balança comercial.


  A dinâmica apresentada parece intuitiva, porém não está detalhada em sua completude e não explica exatamente o que ocorre efetivamente em tais indicadores. O resultado de uma elevação no saldo da balança comercial, na verdade, não é estabelecido no curto prazo, de forma que a dinâmica de ajustamento da balança comercial sofre outras alterações antes de apresentar este panorama.


  Tal problemática ocorre pelo fato de que preços e quantidade demandada não se ajustam de forma equivalente a uma alteração cambial. Na dinâmica apresentada acima foram consideradas as reações a uma desvalorização cambial em termos de quantidade demandada, porém, não se levou em conta o efeito-substituição da mudança relativa dos preços. Visto isso, é preciso entender quais são os efeitos de uma desvalorização da moeda nacional:


(i)                  Elevação das exportações, a depreciação torna os bens brasileiros relativamente menos caros no exterior, causando um aumento na demanda por produtos do Brasil.

(ii)                Redução das importações, a depreciação torna os bens estrangeiros relativamente mais caros no Brasil, causando uma diminuição na demanda por produtos do exterior.

(iii)               Elevação dos preços relativos dos bens estrangeiros, o que aumenta a conta das importações ou, em outras palavras, a mesma quantidade de importações agora é mais cara de comprar.


  Portanto, há três efeitos, sendo os dois primeiros em termos de quantidade demandada e o último, em termos de preços relativos. Os efeitos em termos de quantidade demandada ampliam o saldo da balança comercial (elevando exportação e reduzindo importação), porém, o efeito em termos de preço contribui para reduzir este mesmo saldo (aumentando o valor da importação). Dessa forma, com este último efeito, pode-se afirmar que, após uma desvalorização da moeda nacional, no curto prazo, há a deterioração do saldo da balança comercial e só depois este saldo se ajustará com a atuação dois primeiros efeitos.


    Essa dinâmica mais completa ocorre por causa da diferença entre a reação de ajuste nos preços e nas quantidades demandadas. Os preços relativos se ajustam imediatamente a uma desvalorização da moeda nacional, porém a quantidade demandada pelos agentes sofre uma defasagem e apenas responde a alteração cambial após um determinado período. Tal demora na reação ocorre por vários fatores, como o fato de os indivíduos demorarem a entender que os preços relativos mudaram e as firmas levarem um tempo para mudar seus fornecedores.


  Desta maneira, com a dinâmica mais detalhada, é perceptível que uma depreciação na moeda nacional, inicialmente, diminua o saldo da balança comercial, mas posteriormente este saldo se ajuste e aumente em relação ao saldo inicial. Tal dinâmica entre a taxa de câmbio e a balança comercial foi denominada pelos economistas como “Curva J”.


  No Brasil, ao se relacionar a variação da taxa de câmbio em relação ao dólar com a variação do saldo da balança comercial desde o ano de 1993, a defasagem entre tais alterações fica perceptível, mostrando que a curva J é obedecida em nossa conjuntura macroeconômica. Tal relação pode ser visualizada de maneira prática no gráfico abaixo. Quando a taxa de câmbio se eleva (o dólar fica mais caro em relação ao real, significando uma desvalorização de nossa moeda) o saldo da balança comercial continua caindo e só depois de um determinado período passa a se elevar. O contrário ocorre quando a moeda brasileira se valoriza em relação ao dólar.



Fonte: IpeaData. Elaboração própria.


Tal situação representa uma dificuldade para os formuladores de política econômica no Brasil e reflete a deterioração atual de nossa balança comercial, pois se o governo conta com uma depreciação da moeda  para melhorar a balança comercial e para expandir o produto doméstico, os efeitos irão seguir o sentido contrário durante a defasagem da resposta dos indivíduos em termos de quantidade demandada à variação da taxa de câmbio.


  Assim, dado que o governo realizou uma depreciação neste sentido, tanto os formuladores de política econômica quanto os agentes em geral devem manter-se pacientes e aguentar um determinado período com resultados piores. É este cenário que se apresentou no Brasil recentemente. O governo vinha desvalorizando a moeda, mas só obtivemos um superávit neste ano no mês de março (R$ 458 milhões), sendo que em janeiro e fevereiro apresentamos déficits históricos, R$ 3,174 bilhões e R$ 2,842 bilhões, respectivamente.


  Além disso, o governo ainda está sujeito a uma situação em que a balança comercial não realize seu ajuste normal, dada uma desvalorização da moeda nacional. Isso ocorre quando a Condição de Marshall-Lerner não é obedecida. Ou seja, a alteração na quantidade demandada de importações e exportações (efeitos i e ii) não ser suficiente para compensar a elevação na conta das importações, pelo aumento do preço relativo. Tal fator depende da elasticidade destes efeitos  e é um perigo eminente para o formulador de política econômica, pois ele depreciará a moeda, mas não obterá os efeitos desejados.    



7 de abr. de 2015

O superávit decorrente da queda na corrente de comércio

Por Evelyn Nagaoka*


Depois de começar o ano com um déficit de mais de US$3 bilhões, foi divulgado no último dia primeiro pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que o Brasil registrou em março o primeiro superávit na balança comercial em 2015, com desempenho de US$458 milhões positivos.

Ao  analisar  o  resultado  em  relação  ao  mesmo  período  dano  passado, observa-se uma queda no desempenho nacional transparecida pelo saldo negativo de US$649 milhões em exportações e pelo saldo também negativo de US$989 milhões nas importações. Além disso, por conta nas quedas de exportões e importações, houve uma consequente queda na corrente de comércio (representão do total de transações, ou seja, exportações+importações), resultando numa retração de 17,7% tomando como base a média diária, o que significa que as transações perderam força em  relação  aos  anos  anteriores.  Contudo,  resultado  do  mês  passado  (US$458 milhões) superou o saldo no mês correspondente nos anos anteriores, que fecharam período com saldo de US$113,8 milhões em 2014 e US$152,20 milhões em 2013.

Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração própria.

Ao comparar os resultados com o ano de 2015, por outra perspectiva, os resultados aparentam uma grande melhora, exaltando o fato de que em março foi registrado o primeiro superávit do ano.

O Brasil, que iniciou o ano em saldo positivo pela última vez em 2011 (US$397 milhões), começou 2015 com déficit de mais de US$3 bilhões, registrando outro valor negativo em fevereiro de US$2,8 bilhões até que alcançasse superávit no último mês. Para que o resultado de março fosse possível, as exportações e importações tiveram melhoras significativas. As exportações apresentaram aumento de quase US$5 bilhões, enquanto a elevação nas importações foi de US$1,6 bilhões, resultado que acarretou no saldo positivo do último mês.

O fato de que o primeiro trimestre do ano apresentou uma pequena melhora
no saldo da balança comercial em relação ao mesmo período nos dois últimos anos tem caráter duplo: por um lado, representa aumento do saldo de US$161 milhões em
2013 para US$458 milhões em 2015; por outro lado, tal melhora não é consequência de um crescimento nas transações correntes de comércio, mas de exportões e importações menos expressivas. O que ocorreu, na realidade, foi uma queda de US$2,341 bilhões nas exportões e uma redução nas importões no valor de US$2,638 bilhões em relação a 2013, fato mascarado pela comparação entre os resultados de fevereiro e março desse ano. O ideal seria que, além de o saldo ter aumentado, fosse consequência de um aumento expressivo das exportações ao invéde ser apenas o resultado de exportações que caíram menos que as importações.



Fonte: IPEA. Elaboração própria.


Com  o  resultado  do  PIB  divulgado  no  último  dia  27  pelo  IBGE  (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) de que o crescimento brasileiro foi de apenas
0,1% em 2014 (pior resultado desde 2009), somado ao fato de que o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central exaltou projeções de recessão para 2015, a tendência é que as importações diminuam no decorredo ano. Por  outro  lado, tambéhá a possibilidade de aumento nas exportações decorrente da desvalorização do câmbio brasileiro.