31 de mar. de 2015

O esgotamento do modelo baseado no consumo

Por Matheus Rabelo*

O atual clima de instabilidade tanto política quanto econômica que o Brasil vive hoje e que repercute sobre todas as esferas da sociedade em formas de resultados econômicos pífios e em consequência, insatisfação, protestos, etc. é resultado das políticas econômicas contra-cíclicas utilizadas como forma de tentar imunizar o país contra a crise sistêmica mundial de 2008 e que moldaram um modelo de crescimento baseado no consumo.


O tipo de política econômica adotado à época era uma forma de responder a crise mundial, que, a priori, impactaria negativamente o país em termos de produto e emprego. O governo, então, decidiu por uma combinação de políticas que estimulassem a demanda agregada por meio do consumo. Elevou o déficit público, principalmente fazendo cortes em tributos associados ao consumo, tal como o imposto sobre produtos industrializados (IPI).


O incentivo ao consumo através da redução do IPI possibilitou uma situação favorável em muitos setores, dentre eles, os fabricantes de produtos da linha branca e a indústria automobilística, que por sua vez foram capazes de manter seus trabalhadores empregados e até mesmo contratar mais. Isso tudo em meio à crise mundial – por isso “política econômica contra-cíclica”.


A política monetária, por sua vez, também teve como objetivo o estímulo ao consumo. A redução da taxa de juros por meio de políticas expansionistas, fez com que o crédito ficasse mais barato, que claramente constituiu-se forte estímulo à demanda agregada através do consumo.


 Essa combinação de políticas, apesar de ter feito com que “a tsunami da crise parecesse uma marolinha” para o Brasil, ou seja, enquanto o mundo entrava em recessão, pudemos manter nossas taxas de crescimento e até mesmo alcançar a expressiva taxa de 7,5% em 2010. Muito devido ao crescimento do consumo das famílias e também pelo resultado do balanço de pagamentos, que foi puxado pelas maiores importações da China de produtos brasileiros – principalmente commodities.
No entanto, esse tipo de modelo baseado no consumo é claramente um modelo de curto-prazo.  O estímulo do consumo através da redução de tributos aumentou o endividamento público por um lado e por outro, o barateamento do crédito que permitiu que as famílias comprassem mais em um primeiro momento, não havendo crescimento proporcional nas suas rendas, fez com que aumentasse também o endividamento das famílias.


Em nenhum momento, além do fracassado plano de aceleração do crescimento, desenhou-se uma política que estimulasse o investimento. Ação que seria importante para melhorar tanto a qualidade da nossa infraestrutura quanto para ampliar a capacidade produtiva. Já que não houve ampliação da capacidade produtiva vis à vis um aumento da demanda agregada, esse deslocamento da demanda em relação a oferta agregada gera o que é conhecido como inflação de demanda.


O maior endividamento público faz com que o governo tenha que financiar sua dívida através da emissão de títulos. A capacidade do governo de honrar o pagamento da sua dívida junto aos seus emprestadores é um dos principais indicadores do país ser favorável ou não a investimentos. É certo que um montante da dívida cada vez maior, faz com que a incerteza sobre a capacidade de honrar suas dívidas seja cada ver maior, e é esse o caso do Brasil hoje. Essa capacidade é medida por agências de classificação de risco, como a Standard’s and Poors, que na semana passada manteve a nota de grau de investimento do país.


O esgotamento do modelo é caracterizado hoje por:


(i)                  Aumento da inflação, tanto a causada pelo deslocamento da demanda frente à oferta (inflação de demanda) quanto a causada pelas expectativas, pois, os resultados que a autoridade monetária passou a entregar à sociedade em termos de inflação fizeram com que os anúncios de convergência para o centro da meta não fossem mais críveis;


Fonte: IBGE. Elaboração própria.


(ii)                Situação insustentável da dívida pública, provocada por estímulos à demanda agregada visando a manutenção do consumo;


(iii)               Baixo nível de produto e emprego. O resultado do PIB em 2014 – 0,1% - reflete a falta de investimento no país, que é a componente que sustenta o crescimento no longo-prazo. O menor nível de produto consequentemente leva a menores níveis de emprego, onde a taxa de desemprego medida pela PME-IBGE chegou a 5,9% no mês de fevereiro desse ano;

(iv)              Crise política e institucional que em grande medida foi provocada pelos pífios resultados econômicos recentes e também pelos escândalos de corrupção que permeiam o Brasil de hoje;

Com isso, a situação que os gestores de política econômica enfrentam é bastante complexa. Já tiveram a percepção de que o modelo baseado no consumo não é mais sustentável e a solução seria deslocar o eixo do crescimento do consumo para o investimento – que sustenta o crescimento econômico no longo-prazo - mas essa não é uma tarefa fácil. A primeira medida para que haja esse deslocamento é o ajuste fiscal anunciado pelo ministro da fazenda Joaquim Levy – meta de 1,2% de superávit primário em 2015 – pois isso influencia as decisões de investimento, porque fortalece a capacidade do governo em honrar seus compromissos. Além disso, deve-se pensar em uma agenda séria para que haja a retomada dos investimentos e combater a inflação, com o objetivo de termos crescimento sustentável com baixa inflação, aumentando o bem-estar social.





*Graduando em Economia-UFF

17 de mar. de 2015

Dificuldades de um formulador de Política Econômica

Por Johann Soares*


Em tempos de instabilidade econômica, em que os indicadores macroeconômicos começam a apresentar resultados preocupantes, se debate o papel do governo na condução de suas políticas econômicas, sempre com o intuito de amenizar tais choques ou até mesmo  eliminá-los. O debate envolve uma questão fundamental da macroeconomia moderna, a necessidade ou não da intervenção do governo nestes momentos de crise.

 Após a crise de 1929, com as ideias de J. M. Keynes, ficou convencionado de que o governo teria sim um papel importante de estabilizador da economia, de que seus gastos ampliariam o nível de produto e, por conseguinte, reduziriam a taxa de desemprego.  Porém, até os dias atuais, surgiram várias outras teorias colocando o governo como um agente desestabilizador, no sentido de que, ele mais atrapalha do que ameniza os choques e, portanto, deve adotar ações mais passivas durante as crises. Entre os economistas que se destacaram na defesa da passividade das políticas econômicas estão Milton Friedman e Robert Lucas.

  Atualmente, a discussão ainda não cessou, porém, é quase unanimidade entre os economistas a série de dificuldades com que o governo se defronta ao formular suas políticas econômicas. Então, tendo em vista este acalorado debate e o contexto atual da conjuntura macroeconômica brasileira, se torna necessário expor e explicar quais são estas dificuldades e os métodos para contê-las.
  Inicialmente há a questão das defasagens. Quando ocorre um choque, o governo precisa primeiro, identificá-lo, a partir de suas características e seus efeitos. Depois é necessário que ocorra um estudo sobre a necessidade de intervenção e como se dará a implementação da política econômica, até que, de fato, se aplique as medidas consideradas necessárias. Todo esse processo demanda tempo, sendo que o intervalo entre a ocorrência do choque e a implementação da política econômica é denominado de Defasagem Interna.

  Quando a política é implementada pela autoridade econômica, os seus efeitos não são percebidos imediatamente na economia como um todo, eles repercutem lentamente na estrutura da sociedade e os agentes apenas respondem a essa politica após um determinado período. O intervalo de tempo entre a implementação da política econômica corretiva e a sua repercussão na economia é denominado de Defasagem Externa.

    Na totalidade do processo, ambas as defasagens se acumulam, fazendo com que o intervalo entre a ocorrência do choque e a repercussão da politica econômica seja significante. Tal fato representa um problema considerável para o governo, pois o período de defasagens pode ser tão extenso que, nele próprio, a economia já terá voltado ao normal naturalmente, fazendo com que os efeitos da politica econômica causem um novo choque desestabilizador.

  Dessa forma, vamos supor que, no final do ano de 2015, a taxa de desemprego no Brasil seja de 9% e que o governo decide realizar uma expansão monetária para impulsionar o produto e assim diminuir o desemprego, além do mais, digamos que a defasagem total da política monetária no país é de seis meses. Quando o a expansão monetária realmente fizer efeito sobre a economia, pode ser que o atual choque de elevação sobre a taxa de desemprego já tenha sigo revertido, de forma que tal indicador, já tenha voltado ao seu nível natural. Portanto, quando passar a defasagem externa, a expansão monetária se deparará com um mercado de trabalho em equilíbrio, causando uma maior redução da taxa de desemprego (abaixo de seu nível natural) e pressões inflacionárias, desestabilizando novamente a economia.

  A partir do exemplo acima, pode-se ver que as defasagens são um forte argumento contra as políticas econômicas e uma dificuldade relevante para o formulador. Porém, há alguns mecanismos utilizados pelos economistas para amenizar as flutuações econômicas sem precisar passar pelas duas defasagens. Tais mecanismos são os estabilizadores automáticos, que possuem um efeito menor, mas amenizam os choques. Tais estabilizadores não precisam ser acionados, pois são corrigidos automaticamente. Um exemplo são os impostos progressivos, que impõem taxas distintas para diferentes níveis produção e renda. Então, quando a produção está aquecida, a taxa imposta pelo governo se eleva, servindo como um freio natural.

  Outra dificuldade com que se deparam os formuladores de política econômica é a existência das expectativas. Uma política implementada não depende apenas de seus efeitos diretos, mas também dos efeitos que ela causa nas expectativas dos agentes. Tal ponto faz com que a ação do governo se torne incerta, pois é difícil quantificar a expectativa dos indivíduos. Além disso, muitos modelos nem consideram a expectativa da população sobre uma politica econômica, o que pode alterar totalmente o resultado desejado. Tal critica às políticas adotadas pelo governo foi formulada por Robert Lucas.
  Para representar melhor a forma com que as expectativas influem no resultado de um choque, podemos utilizar o ferramental microeconômico da Teoria dos Jogos. O problema descrito nada mais é do que uma interação estratégica entre o formulador de política econômica e a expectativa dos indivíduos. O que os agentes fazem depende do que eles esperam que os formuladores façam, e a ação destes depende do que esperam que aconteça na economia. Portanto, podemos ver que o jogo estratégico entre estes dois jogadores pode ser muito complexo e estar envolto de incertezas, o que faz com que seja provável a ocorrência de efeitos indesejáveis, dadas certas politicas econômicas.

  É necessário explicar um exemplo de como as expectativas influenciam as políticas econômicas. Vamos supor que o Banco Central brasileiro publique uma meta de inflação de 2% e que os indivíduos confiem perfeitamente em tal meta. Além disso, o Banco Central sabe que a sensibilidade da inflação em relação à diferença entre o desemprego efetivo e o natural é 0,4 e a taxa natural de desemprego é de 4%. Para este cálculo, precisamos utilizar a curva de Phillips:


  Se o governo seguir exatamente a sua meta de inflação, a taxa de desemprego efetiva será equivalente à natural, atingindo um patamar de 4%. Porém, o formulador de política econômica pode adotar uma tática conhecida como inconsistência temporal, ou seja, um incentivo para se desviar de sua escolha dado que o outro jogador já tenha feito sua jogada. Isso significa que ele abandonaria sua meta publicada para atingir resultados possivelmente melhores em um determinado contexto. Visto isso, o governo observa que se aceitar uma pequena elevação da inflação para 3% terá uma redução considerável do desemprego para 1,5%, um dilema tentador em termos de política econômica.

  Porém, os agentes perceberão que o governo não seguiu a meta prometida e elevarão a expectativa inflacionária para o novo patamar de 3%. Essa nova jogada faz com que a taxa de desemprego volte a ser 4%, mas com uma inflação maior que a anterior, sendo que o governo só poderia reduzir o desemprego aumentando novamente a inflação. Este exemplo demonstra como as expectativas podem fazer com que a política econômica tome um resultado contrário ao desejado.

  Caso o governo realize inconsistências temporais sucessivas, perderá a sua credibilidade perante os agentes, tornando o jogo estratégico muito mais complexo e incerto. Portanto, uma medida que pode facilitar o jogo entre o formulador e os indivíduos é a busca da credibilidade da autoridade monetária. Este objetivo pode ser alcançado com a independência do Banco Central, que ficaria livre de pressões e interesses políticos, deixando de preocupar-se apenas com o curto prazo, por causa de eleições, populismo, entre outros motivos. Dessa forma, o formulador poderia alcançar uma escolha racional sem a influência de segundos interesses.

  Para eliminar as dificuldades expostas neste estudo, os economistas fazem uso da elaboração de cenários econômicos, o que inclui a construção de modelos que expliquem as variáveis que o governo pretende descobrir, além de relacioná-las com outras variáveis, denominadas explicativas. Esse método busca prever os choques ou os efeitos de uma determinada política de forma que se exclua os efeitos das defasagens e, em alguns casos, as flutuações das expectativas.

  Contudo, os economistas não entram em acordo sobre um modelo que seja realmente efetivo e elimine todas as incertezas. Pelo contrário, existem inúmeros modelos de política econômica que induzem resultados diversos, dado um choque na economia. Tal ponto limita em muito a atuação do governo, pois até a utilização dos modelos é incerta e eles se demonstram limitados. Para demonstrar essa dificuldade, um estudo encomendado pela Brookings Instituition solicitou a doze dos principais formuladores de modelos macroeconométricos a previsão de uma mesma problemática, a elevação em 4% do nível de moeda nominal nos Estados Unidos.

  O gráfico abaixo mostra o resultado de cada um dos modelos em termos de desvio percentual do nível estacionário da economia. É perceptível que os modelos são muito distintos respondendo à mesma pergunta, o que ilustra de forma suficiente a incerteza com que se depara um formulador de politica econômica ao tentar prever o efeito dos choques em uma economia.

Fonte: Blanchard, Olivier. Macroeconomia, 4ª edição, Ed. PEARSON, Prentice Hall, 2007. (dados aproximados)

 
  O resultado do estudo mencionado põe em cheque a capacidade de previsão dos economistas, demonstrando que os seus resultados podem ser bastante incertos, causando efeitos indesejáveis na conjuntura macroeconômica de um país. Porém, os economistas são os mais capacitados para efetuar tais previsões. A primeira geração de modelos de previsão, liderada por Franco Modigliani, representou um grande avanço nas políticas econômicas e os modelos vêm desenvolvendo análises cada vez mais satisfatórias, sendo que em um futuro breve, poderemos realizar politicas econômicas com eficácia, no sentido de previsão.

  Entretanto, este texto demonstrou que atualmente, as dificuldades impostas ao formulador de politica econômica são consideráveis e plausíveis. Por esse motivo, muitos economistas consideram que o governo não deve intervir para não agravar a situação da economia em um momento de crise. O governo brasileiro, que está passando por um desses tempos de turbulência, deve estar atento à decisão e à condução de politicas econômicas para que nossa economia não seja desestabilizada sucessivamente por choques indesejados. A função de um formulador de politica econômica é delicada e nem sempre a intervenção é o melhor caminho à estabilidade.


Referências Bibliográficas

BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia, edição, Ed. PEARSON, Prentice Hall, 2007.
SACHS, J. D.; LARRAIN, B. F. Macroeconomia. São Paulo: Makron, 1995.

LOPES, L. M.; VASCONCELOS M. A. S. Manual de Macroeconomia, 3ª edição, Ed. ATLAS, 2011.

8 de mar. de 2015

Uma homenagem às Mulheres Economistas

Por Evelyn Nagaoka*

Hoje é o comemorado o Dia Internacional da Mulher, que surgiu quando operárias de uma fábrica de Nova Iorque começaram a luta por melhorias nas condições de trabalho e equiparação com os salários dos homens, em 1857.

Desde então, as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço na sociedade e, como não poderia deixar de ser, no mercado de trabalho. Entre elas estão, atualmente, algumas representantes economistas e, como os economistas que somos ou seremos, é natural que desejemos homenagear essas representantes numa data tão simbólica.


1-Janet Yellen

A primeira delas é Janet Yellen, que no ano passado se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente do FED (Federal Reserve), o banco central americano, em fevereiro de 2014. No mesmo ano, foi considerada pela Forbes como a 2ª mulher mais influente do mundo e, nos próximos anos, fará o papel de uma peça importante ao definir os caminhos que a economia mundial seguirá nos próximos anos. Isso porque, segundo a Forbes, sua lista de tarefas é liderada pela tarefa de restaurar o sonho americano: ela será responsável por reestruturar o programa de estímulos monetários previamente implantados por Ben Bernanke, que aumentaram o desemprego no país e fizeram com que o sonho americano fosse esquecido.

No texto publicado pela Time, Christine Lagarde, que também está em nossa lista, diz que se suspirou e sorriu quando Janet assumiu o posto, pois se sentiria menos sozinha nas reuniões em que normalmente “haviam muito poucas saias”. No mesmo texto, ela diz que têm muito em comum: a preocupação pelo desemprego, a crença de que consenso funciona melhor que confronto, a forte determinação de não enxergar a crise (que começaram a superar) acontecendo novamente, e a convicção de que podem fazer algo em relação a isso.

Ela ainda completa que ficou feliz pela nomeação não somente porque Janet é uma mulher conquistando espaço, mas porque sua conquista foi recebida sem alarde, pois todos concordavam que ela era a melhor escolha para o cargo. O fato de ser uma mulher não foi decisivo, apenas aconteceu.

O texto na íntegra pode ser visto aqui.




2-Christine Lagarde

Christine é a 4ª mulher mais influente do mundo, segundo lista da Forbes de 2014. Apesar de não ter se formado realmente em Economia, é a primeira mulher a assumir o cargo de diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), estando então à frente da organização financeira de 188 países. No cargo, Christine tem pressionado para que os responsáveis pela criação de políticas tomem medidas mais ousadas a fim de investir em infraestrutura e criar empregos.

Antes disso, Lagarde foi integrada ao governo francês em 2005 como Ministra de Comércio Exterior, passando para o cargo de Ministra de Agricultura e Pesca em 2007 e, depois, a primeira mulher a se tornar Ministra de Economia e Finanças de um país do G-7. Em 2008, foi ainda presidente do ECOFIN Council, que contempla todos os Ministros de Economia e Finanças da União Europeia.

Como membro do G-20, Christine se envolveu na administração da crise financeira e, ao presidir o G-20, lançou uma agenda para reformar o sistema monetário internacional.




3-Ngozi Okonjo-Iweala

Ngozi Okonjo-Iweala é a atual Ministra das Finanças da Nigéria, país que agora é a maior economia da África, superando a África do Sul no ano passado.

De acordo com o texto da Time, redigido pelo cantor e filantropista Bono,  Ngozi fez parte da luta pelo cancelamento da dívida da Guerra Fria por parte dos países mais pobres e endividados. No mesmo texto, Bono diz: “...[Ngozi] tem um dos trabalhos mais difíceis do planeta - como garantir que as dezenas de bilhões de dólares ganhos a cada ano em receitas de petróleo entrem em uso produtivo, como na agricultura, na infra-estrutura , na saúde e na educação. Ngozi tornou a corrupção sua inimiga e a estabilidade, seu objetivo. Ela é extremamente inteligente; todo mundo quer trabalhar com ela”.

O texto pode ser conferido aqui.




4-Anat Admati 

Anat ministra aulas na Universidade de Standford e tem escrito sobre a disseminação de informação nos mercados financeiros, mecanismos de negociação, gerenciamento de portfólio, contratação financeira, e, mais recentemente, sobre a governança corporativa. Além disso, já foi nomeada pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e, segundo a revista Foreign Policy, está entre os 100 pensadores globais em 2014.

Junto com Martin Hellwig, escreveu “The Banker’s New Clothes”, que questiona as divulgações de Wall Street na tentativa de evitar que suas ações fossem questionadas após a crise de 2008.




5-Mônica de Bolle 

Representante brasileira de nossa lista, Mônica é PhD em Economia pela London School of Economics, professora de Macroeconomia na PUC-Rio e diretora no Instituto de Estudos de Políticas Econômicas (IEPE). Além disso, já escreveu diversos livros sobre os desafios das políticas brasileiras e escreve regularmente para os jornais “O Globo” e “O Estado de São Paulo”.

Durante sua carreira, Mônica chefiou a área de Pesquisa Macroeconômica Internacional do BBM, trabalhou no FMI entre 2000 e 2005 e teve envolvimento direto e indireto na resolução de crises como a Argentina e Uruguaia.





Ao longo dos anos, a tendência é que as mulheres conquistem cada vez mais espaço no mercado de trabalho e, consequentemente, no cenário econômico. A torcida é para que, como aconteceu com Janet Yellen, as pessoas não se impressionem mais com as mulheres assumindo cargos de liderança e representatividade - serão notícias naturais e muito bem recebidas.

*Graduanda de Economia na UFF

3 de mar. de 2015

Explicação e expectativa do desemprego brasileiro

Por Johann Soares*

No mês de janeiro tivemos um aumento considerável da taxa de desemprego brasileira em relação ao mês de dezembro de 2014. A taxa subiu um ponto percentual, passando para 5,3%. Este aumento foi maior que as expectativas das principais consultorias do país, que esperavam algo por volta de 5%.
A publicação do IBGE, por meio da PME, foi marcada por uma maior procura de emprego e a dispensa de muitos postos, o que causou o aumento da taxa de desemprego. Historicamente, o mês de janeiro apresenta taxas mais elevadas por causa da dispensa de empregos temporários e da maior procura por trabalho após as festas de fim de ano.


Por outro lado, ocorreram também variações indicadoras de instabilidade econômica, como a queda da geração de postos de trabalho, reduzindo 2,1% em relação a dezembro e 1,9% em relação a janeiro do ano passado. Tal fator demonstra a perda de ritmo da economia, o que vem acontecendo desde o início de 2014, porém o efeito da elevação na taxa de desemprego só está transparecendo consideravelmente em 2015. Essa defasagem é explicada pela crescente rigidez da legislação trabalhista e pelo intenso processo de formalização. Em termos técnicos, significa que ocorre no Brasil o fenômeno de "Labor Hording", presente na relação produto-emprego. Tal fenômeno explica que, em uma situação de depressão econômica, as firmas vão hesitar ao demitir seus funcionários, decido ao custo associado a esse processo.


Tendo explicado a variação atual da taxa de desemprego, é nossa preocupação prever quais serão suas variações futuras, traçando um panorama do mercado de trabalho em 2015. Infelizmente, as expectativas para a taxa no país são de elevação considerável.


Inicialmente, temos a relação produto-emprego. Por vários períodos consecutivos, a nossa produção tem crescido a níveis irrisórios e, segundo a OCDE, o PIB deve crescer 0,3% em 2014 e 1,4% em 2015. Tais números são incapazes de manter o desemprego no nível atual. Essa relação é explicada pela Lei de Okun, onde o crescimento do PIB precisa ser maior que sua taxa natural para causar pressão negativa no desemprego. Atualmente, a taxa natural de crescimento do PIB no país é de 2,24%, mostrando que os valores esperados pela OCDE são ineficazes para fins de desemprego.


Utilizando as componentes cíclicas das séries retiradas dos dados de PIB (IBGE) e taxa de desemprego (PME-IBGE) de janeiro de 2012 até dezembro de 2014, obtivemos a correlação cruzada com 3 defasagens entre as duas variáveis. Para isso, fizemos uso do filtro HP e da função ccf do R, que também nos fornece os gráficos das correlações e seus respectivos intervalos de confiança.

Variáveis
t-3
t-2
t-1
t
t+1
t+2
t+3
Desemprego
0,039
0,200
0,606
1,000
0,606
0,200
0,039
PIB
-0,217
0,120
0,211
-0,007
0,003
0,299
0,333
Tabela 1: Correlações cruzadas. Fonte: IBGE. 

 Mesmo se desconsiderássemos o baixo crescimento produtivo brasileiro, temos que a relação produto-emprego no país tem se transformado. Cada vez mais há uma menor resposta da variação do emprego à variação do PIB, ou seja, as variações na produção tem demandado cada vez menos mão-de-obra, o que significa menor geração de vagas e elevação do desemprego. Tal fenômeno é percebido pela redução do coeficiente beta na Lei de Okun, registrando novamente o fenômeno "Labor Hording", que até pode ter seus efeitos positivos por evitar grande elevação do desemprego em crises de produção.


 Além do PIB, temos a inanição do investimento, que impede que a economia amplie em muito sua capacidade produtiva. Nosso nível de investimento está abaixo de seu potencial. O IBRE previu uma taxa de investimento com relação ao PIB em 2014 de 17%, sendo que, em 1989, a mesma taxa era de 26,9%. O cenário para investir no Brasil tem se degenerado por causa do aumento da taxa básica de juros, a elevação dos custos (como a atual oneração na folha de pagamento) e a incerteza generalizada dos investidores em relação à nossa economia. Todos esses fatores impedem a criação de novos postos de trabalho.


 Outra variável que promete elevar o desemprego é o rendimento médio das famílias brasileiras. O crescimento deste indicador foi de apenas 0,4%, perante a 1,7% em janeiro do ano passado. A queda do rendimento familiar deve aumentar a procura por emprego, impedindo que a recente geração "nem estuda, nem trabalha" seja automaticamente sustentada.


 Por último, devemos salientar a relação inflação-desemprego, explicada pela Curva de Phillips. A nossa inflação vem subindo consideravelmente, atingindo, por vezes, o teto da meta. Este indicador é perigoso para o mercado de trabalho, pois a nossa Curva de Phillips está cada vez mais achatada, significando que está cada vez mais custoso, em termos de desemprego, combater a inflação. Tal resultado foi apresentado em estudo pelo então presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.



Com todos esses índices, podemos perceber que a expectativa para o mercado de trabalho brasileiro é preocupante, de forma que não seria surpresa alcançar um desemprego entre 6% e 8%. Cabe ao governo ativar os mecanismos adequados para controlar essa taxa, fornecendo melhor cenário para se investir e maiores estímulos à produção.


*Graduando em Economia-UFF