3 de mar. de 2015

Explicação e expectativa do desemprego brasileiro

Por Johann Soares*

No mês de janeiro tivemos um aumento considerável da taxa de desemprego brasileira em relação ao mês de dezembro de 2014. A taxa subiu um ponto percentual, passando para 5,3%. Este aumento foi maior que as expectativas das principais consultorias do país, que esperavam algo por volta de 5%.
A publicação do IBGE, por meio da PME, foi marcada por uma maior procura de emprego e a dispensa de muitos postos, o que causou o aumento da taxa de desemprego. Historicamente, o mês de janeiro apresenta taxas mais elevadas por causa da dispensa de empregos temporários e da maior procura por trabalho após as festas de fim de ano.


Por outro lado, ocorreram também variações indicadoras de instabilidade econômica, como a queda da geração de postos de trabalho, reduzindo 2,1% em relação a dezembro e 1,9% em relação a janeiro do ano passado. Tal fator demonstra a perda de ritmo da economia, o que vem acontecendo desde o início de 2014, porém o efeito da elevação na taxa de desemprego só está transparecendo consideravelmente em 2015. Essa defasagem é explicada pela crescente rigidez da legislação trabalhista e pelo intenso processo de formalização. Em termos técnicos, significa que ocorre no Brasil o fenômeno de "Labor Hording", presente na relação produto-emprego. Tal fenômeno explica que, em uma situação de depressão econômica, as firmas vão hesitar ao demitir seus funcionários, decido ao custo associado a esse processo.


Tendo explicado a variação atual da taxa de desemprego, é nossa preocupação prever quais serão suas variações futuras, traçando um panorama do mercado de trabalho em 2015. Infelizmente, as expectativas para a taxa no país são de elevação considerável.


Inicialmente, temos a relação produto-emprego. Por vários períodos consecutivos, a nossa produção tem crescido a níveis irrisórios e, segundo a OCDE, o PIB deve crescer 0,3% em 2014 e 1,4% em 2015. Tais números são incapazes de manter o desemprego no nível atual. Essa relação é explicada pela Lei de Okun, onde o crescimento do PIB precisa ser maior que sua taxa natural para causar pressão negativa no desemprego. Atualmente, a taxa natural de crescimento do PIB no país é de 2,24%, mostrando que os valores esperados pela OCDE são ineficazes para fins de desemprego.


Utilizando as componentes cíclicas das séries retiradas dos dados de PIB (IBGE) e taxa de desemprego (PME-IBGE) de janeiro de 2012 até dezembro de 2014, obtivemos a correlação cruzada com 3 defasagens entre as duas variáveis. Para isso, fizemos uso do filtro HP e da função ccf do R, que também nos fornece os gráficos das correlações e seus respectivos intervalos de confiança.

Variáveis
t-3
t-2
t-1
t
t+1
t+2
t+3
Desemprego
0,039
0,200
0,606
1,000
0,606
0,200
0,039
PIB
-0,217
0,120
0,211
-0,007
0,003
0,299
0,333
Tabela 1: Correlações cruzadas. Fonte: IBGE. 

 Mesmo se desconsiderássemos o baixo crescimento produtivo brasileiro, temos que a relação produto-emprego no país tem se transformado. Cada vez mais há uma menor resposta da variação do emprego à variação do PIB, ou seja, as variações na produção tem demandado cada vez menos mão-de-obra, o que significa menor geração de vagas e elevação do desemprego. Tal fenômeno é percebido pela redução do coeficiente beta na Lei de Okun, registrando novamente o fenômeno "Labor Hording", que até pode ter seus efeitos positivos por evitar grande elevação do desemprego em crises de produção.


 Além do PIB, temos a inanição do investimento, que impede que a economia amplie em muito sua capacidade produtiva. Nosso nível de investimento está abaixo de seu potencial. O IBRE previu uma taxa de investimento com relação ao PIB em 2014 de 17%, sendo que, em 1989, a mesma taxa era de 26,9%. O cenário para investir no Brasil tem se degenerado por causa do aumento da taxa básica de juros, a elevação dos custos (como a atual oneração na folha de pagamento) e a incerteza generalizada dos investidores em relação à nossa economia. Todos esses fatores impedem a criação de novos postos de trabalho.


 Outra variável que promete elevar o desemprego é o rendimento médio das famílias brasileiras. O crescimento deste indicador foi de apenas 0,4%, perante a 1,7% em janeiro do ano passado. A queda do rendimento familiar deve aumentar a procura por emprego, impedindo que a recente geração "nem estuda, nem trabalha" seja automaticamente sustentada.


 Por último, devemos salientar a relação inflação-desemprego, explicada pela Curva de Phillips. A nossa inflação vem subindo consideravelmente, atingindo, por vezes, o teto da meta. Este indicador é perigoso para o mercado de trabalho, pois a nossa Curva de Phillips está cada vez mais achatada, significando que está cada vez mais custoso, em termos de desemprego, combater a inflação. Tal resultado foi apresentado em estudo pelo então presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.



Com todos esses índices, podemos perceber que a expectativa para o mercado de trabalho brasileiro é preocupante, de forma que não seria surpresa alcançar um desemprego entre 6% e 8%. Cabe ao governo ativar os mecanismos adequados para controlar essa taxa, fornecendo melhor cenário para se investir e maiores estímulos à produção.


*Graduando em Economia-UFF

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