No mês de
janeiro tivemos um aumento considerável da taxa de desemprego brasileira em
relação ao mês de dezembro de 2014. A taxa subiu um ponto percentual, passando
para 5,3%. Este aumento foi maior que as expectativas das principais
consultorias do país, que esperavam algo por volta de 5%.
A publicação do
IBGE, por meio da PME, foi marcada por uma maior procura de emprego e a
dispensa de muitos postos, o que causou o aumento da taxa de desemprego.
Historicamente, o mês de janeiro apresenta taxas mais elevadas por causa da
dispensa de empregos temporários e da maior procura por trabalho após as festas
de fim de ano.
Por outro lado,
ocorreram também variações indicadoras de instabilidade econômica, como a queda
da geração de postos de trabalho, reduzindo 2,1% em relação a dezembro e 1,9%
em relação a janeiro do ano passado. Tal fator demonstra a perda de ritmo da
economia, o que vem acontecendo desde o início de 2014, porém o efeito da
elevação na taxa de desemprego só está transparecendo consideravelmente em
2015. Essa defasagem é explicada pela crescente rigidez da legislação
trabalhista e pelo intenso processo de formalização. Em termos técnicos,
significa que ocorre no Brasil o fenômeno de "Labor Hording",
presente na relação produto-emprego. Tal fenômeno explica que, em uma situação
de depressão econômica, as firmas vão hesitar ao demitir seus funcionários,
decido ao custo associado a esse processo.
Tendo explicado
a variação atual da taxa de desemprego, é nossa preocupação prever quais serão
suas variações futuras, traçando um panorama do mercado de trabalho em 2015.
Infelizmente, as expectativas para a taxa no país são de elevação considerável.
Inicialmente,
temos a relação produto-emprego. Por vários períodos consecutivos, a nossa
produção tem crescido a níveis irrisórios e, segundo a OCDE, o PIB deve crescer
0,3% em 2014 e 1,4% em 2015. Tais números são incapazes de manter o desemprego
no nível atual. Essa relação é explicada pela Lei de Okun, onde o crescimento
do PIB precisa ser maior que sua taxa natural para causar pressão negativa no
desemprego. Atualmente, a taxa natural de crescimento do PIB no país é de
2,24%, mostrando que os valores esperados pela OCDE são ineficazes para fins de
desemprego.
Utilizando as
componentes cíclicas das séries retiradas dos dados de PIB (IBGE) e taxa de
desemprego (PME-IBGE) de janeiro de 2012 até dezembro de 2014, obtivemos a
correlação cruzada com 3 defasagens entre as duas variáveis. Para isso, fizemos
uso do filtro HP e da função ccf do R, que também nos fornece os gráficos das
correlações e seus respectivos intervalos de confiança.
Variáveis
|
t-3
|
t-2
|
t-1
|
t
|
t+1
|
t+2
|
t+3
|
Desemprego
|
0,039
|
0,200
|
0,606
|
1,000
|
0,606
|
0,200
|
0,039
|
PIB
|
-0,217
|
0,120
|
0,211
|
-0,007
|
0,003
|
0,299
|
0,333
|
Tabela 1: Correlações cruzadas. Fonte: IBGE.
Mesmo se desconsiderássemos o baixo
crescimento produtivo brasileiro, temos que a relação produto-emprego no país
tem se transformado. Cada vez mais há uma menor resposta da variação do emprego
à variação do PIB, ou seja, as variações na produção tem demandado cada vez
menos mão-de-obra, o que significa menor geração de vagas e elevação do
desemprego. Tal fenômeno é percebido pela redução do coeficiente beta na Lei de
Okun, registrando novamente o fenômeno "Labor Hording", que até pode
ter seus efeitos positivos por evitar grande elevação do desemprego em crises
de produção.
Além do PIB, temos a inanição do investimento,
que impede que a economia amplie em muito sua capacidade produtiva. Nosso nível
de investimento está abaixo de seu potencial. O IBRE previu uma taxa de
investimento com relação ao PIB em 2014 de 17%, sendo que, em 1989, a mesma
taxa era de 26,9%. O cenário para investir no Brasil tem se degenerado por
causa do aumento da taxa básica de juros, a elevação dos custos (como a atual
oneração na folha de pagamento) e a incerteza generalizada dos investidores em
relação à nossa economia. Todos esses fatores impedem a criação de novos postos
de trabalho.
Outra variável que promete elevar o desemprego
é o rendimento médio das famílias brasileiras. O crescimento deste indicador
foi de apenas 0,4%, perante a 1,7% em janeiro do ano passado. A queda do
rendimento familiar deve aumentar a procura por emprego, impedindo que a
recente geração "nem estuda, nem trabalha" seja automaticamente
sustentada.
Por último, devemos salientar a relação
inflação-desemprego, explicada pela Curva de Phillips. A nossa inflação vem
subindo consideravelmente, atingindo, por vezes, o teto da meta. Este indicador
é perigoso para o mercado de trabalho, pois a nossa Curva de Phillips está cada
vez mais achatada, significando que está cada vez mais custoso, em termos de
desemprego, combater a inflação. Tal resultado foi apresentado em estudo pelo
então presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Com todos esses
índices, podemos perceber que a expectativa para o mercado de trabalho
brasileiro é preocupante, de forma que não seria surpresa alcançar um
desemprego entre 6% e 8%. Cabe ao governo ativar os mecanismos adequados para
controlar essa taxa, fornecendo melhor cenário para se investir e maiores
estímulos à produção.
*Graduando em Economia-UFF
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