20 de jan. de 2015

Perspectivas para os agregados monetários

Por Gabriella Araújo*

O ano de 2014 foi marcado por insatisfações econômicas no Brasil. O crescimento do PIB no acumulado até novembro era de -0,12%, taxa bem inferior aos 2% previstos para o ano pelo Banco Central em março. A inflação acumulada em 12 meses chegou a ultrapassar o teto da meta de 6,5%  e terminou o ano em apenas 0,09% abaixo do teto. Houve até um abandono da meta de superávit primário diante da impossibilidade do governo conter os gastos conforme havia planejado. Diante desses e outros dados econômicos indesejáveis, a expressão tão usada nas mídias  - “colocar ordem na casa” – se faz necessária no ano vigente. O Banco Central, recentemente, divulgou a primeira programação monetária de 2015. Dados econômicos sobre o ocorrido em 2014 e as perspectivas para o primeiro trimestre e para o ano se encontram na programação.


Nos dados apresentados, o Banco Central faz referências ao terceiro trimestre de 2014, visto que, esse é o período mais recente com todas as informações consolidadas. Nos dez primeiros meses do ano, o déficit em transações correntes aumentou em 4,5% com relação ao mesmo período em 2013, provocado tanto pela superioridade das importações sobre as exportações quanto pelo aumento de remessas de lucros de empresas instaladas no Brasil para suas matrizes no exterior. Para sanar um déficit nas transações correntes é necessário haver financiamento através de investimentos estrangeiros;  no período citado, as condições de financiamento permaneceram confortáveis, pois a taxa de rolagem esteve num patamar de 151%, fazendo com que o rendimento de quem adquiriu os títulos da dívida externa aumentasse. Esse patamar implicou em uma captação líquida positiva e os ingressos líquidos em títulos de renda fixa e ações superaram o atingido em 2013. Para 2015, alguns fatores como o maior crescimento global, a depreciação do Real e ampliação da produção interna de petróleo são citados como colaboradores para a balança comercial; o investimento estrangeiro tende a continuar sendo o principal financiador do déficit em conta corrente.


Com relação à atividade econômica no trimestre terminado em outubro, houve uma recuperação moderada e o PIB cresceu 0,1%, com relação ao segundo trimestre, após dois recuos consecutivos. Tal resultado foi fruto de um desempenho positivo na indústria (1,7%) e em serviços (0,5%), além de, no âmbito da demanda doméstica, uma recuperação nos investimentos. O quarto trimestre sofreu influências da produção industrial e das vendas varejistas, mas o dado sobre o PIB, neste período, ainda não foi divulgado. Sobre esse tema a única previsão citada para 2015  é sobre um positivo desempenho na safra agrícola. A partir desse ambiente da atividade econômica, as operações de créditos nos sistemas financeiros continuaram em  expansão moderada com taxas semelhantes nas carteiras de pessoas físicas e jurídicas. Há um destaque para as taxas de juros médias e os spreads, que recuaram no trimestre, período em que foi registado o menor nível de inadimplência do sistema financeiro desde de início da série em 2011. Assim, a moderação do crescimento econômico e a adoção de medidas de incentivo à atividade de setores específicos tiveram impactos significativos sobre a arrecadação em 2014. Esse fato, associado ao crescimento de algumas despesas acima do projetado foram determinantes para que o setor público consolidado registrasse deficit primário de R$11,6 bilhões nos dez primeiros meses de 2014.


A partir dos dados apresentados, é possivel ter uma visão geral sobre o ocorrido no final do ano passado e algumas previsões para este ano que serão usadas na programação das  metas indicativas da evolução dos agregados monetários para o primeiro trimestre e para o ano de 2015. Antes de expor os dados sobre agregados monetários é interessante ressaltar, que eles continuam sendo instrumentos importantes para o efeito de política monetária, mesmo em economias que privelegiam o controle da taxa de juros, visto que, são indicadores de liquidez e de captação interna de recurso por parte do sistema monetário para a multiplicação do crédito no país. A variação dos meios de pagamentos - que é composto pelo papael moeda em poder do público mais os depósitos à vista - em doze meses da média dos saldos diários foi estimada em 3,9% para dezembro de 2015. A partir dessa previsão e considerando-se a atual alíquota de recolhimentos compulsórios sobre recursos à vista, a projeção do saldo médio da base monetária para esse ano é de uma elevação de 5,7% em doze meses. Já para a base monetária ampliada, que difere da anterior por englobar os principais passivos do Banco Central e do Tesouro Nacional (compulsórios e títulos federais), a projeção é 11,8%. Com relação ao M4 que é o meio de pagamento mais amplo, isto é, compreende todos os meios de pagamentos brasileiros, o esperado é de 12,1% em dezembro de 2015. A relação entre M4 e PIB não deverá apresentar expansão significativa no último trimestre do ano vigente.


No final da divulgação feita pelo Banco Central há um resumo com dados relativos à M1 (meios de pagamentos), base monetária restrita e ampliada e M4, tanto do ocorrido em 2014 (de julho à novembro), quanto para as projeções do primeiro trimestre e para o ano de 2015. Nele podemos observar, que para o ano de 2015 as metas de todos os dados foram reduzidas com relação ao ocorrido nos últimos meses do ano passado, entretanto, essa redução é normal como podemos ver nos gráficos abaixo, pois é compatível com a realidade de grandes aumentos no final do ano. A partir dos dados das programações públicadas[1] é possivel perceber – que quando ãs taxas do mesmo período desde 2011 são comparadas – nota-se uma redução nas taxas acumuladas dos meios de pagamentos (M1) e a previsão para 2015 é reduzir ainda mais. Com relação a base monetária restrita, podemos ver que esta também sofreu grandes reduções desse de 2011, entranto para 2015 há previsão de um aumento, que poderá ocorrer a partir de um aumento nos encaixes dos bancos comerciais. Já a programação para a base monetária ampliada e M4 conta com taxas maiores, tal fato pode ser explicado pela alta liquidez de alguns componentes dos agregados monetários frente a realidade de alta da taxa Selic e na Inflação – pelo motivo de alguns títulos públicos federais serem indexados à essas taxas -  esse fato é representado no gráfico de M4 no qual a inclinação se acentuou em 2014.



Fonte: BCB. Elaboração própria


*Graduanda em Economia-UFF


[1] Os dados podem ser encontrados em http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/progmon.asp?Idioma=p

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto e análise muito bem feita! Parabéns!