27 de jan. de 2015

Crescimento, um problema estrutural

Por Johann Soares*

  A economia de um país é análoga á economia de uma empresa. Quando sofre um crescimento ao longo do tempo, não consegue operar com a mesma “salinha” antiga, precisa ampliar a frota de veículos para o transporte de mercadorias, aumentar o número de funcionários e investir em maquinários mais apropriados. Caso não aplique tais medidas, a empresa simplesmente não cresce, perde rendimentos e oportunidades.


  É exatamente neste cenário que o Brasil está imergido. O país cresceu e avançou demais, contudo, investimentos em infraestrutura não acompanharam e nem deram chance ao potencial da nossa pátria, os governos mantiveram outras prioridades e, hoje, o Brasil não atinge o crescimento, demonstrando problemas estruturais graves e básicos. O nosso papel é analisar de que forma a falta de infraestrutura trava o nosso crescimento e eleger os fatores responsáveis, identificando nossas falhas.


  Inicialmente, aparece a questão do escoamento, da logística de transporte de pessoas e mercadorias por todo o território. Um país sem uma boa capacidade de transporte e circulação de seus produtos, com certeza não apresentará um alto potencial de crescimento. A demora e, em algumas ocasiões, a perda de mercadorias, elevam os custos das transações, inviabilizam operações entre empresas, atrasam o progresso e perdem oportunidade de vendas.


  O transporte brasileiro é primordialmente rodoviário e, portanto, primitivo. Os caminhões elevam demasiadamente os custos, são altamente poluentes e lentos, além de que inviabilizam muito o trânsito em rodovias e centros urbanos. O transporte rodoviário é ideal para pequenas distâncias, para atingir aqueles locais que não são cobertos por malhas ferroviárias e essa é a logística sensata, um sistema nacional de transportes com malhas ferroviárias completas, sendo complementadas regionalmente por serviços rodoviários. Porém, nisso chegamos a outro problema. Quais são os lugares atingidos por malha ferroviária no Brasil? Nossas ferrovias são escassas, os maiores avanços foram feitos por D. Pedro II.  Portanto, o Brasil deve investir em ferrovias e planejá-las de forma inteligente. Hoje as ferrovias não possuem um modelo de logística, o transporte de mercadorias e escoamento para o exterior são, por isso, muito prejudicados.


  A malha ferroviária no Brasil possui 27.782 quilômetros, porém, apenas um terço é produtivo, o resto é subutilizado. Na época do Império, a malha ferroviária era um terço da existente nos dias de hoje e toda a malha era produtiva. Portanto, a malha ferroviária produtiva no Brasil atual é a mesma da época do império. Por outro lado, a malha ferroviária dos EUA é de 226 mil quilômetros e a argentina, muito menor e menos desenvolvida que o Brasil, possui mais de 35.000 quilômetros de ferrovias. O gráfico abaixo demonstra uma comparação negativa para o Brasil. Possui um transporte claramente baseado em rodovias, sendo que quase nenhuma destas é pavimentada.

Fonte: Banco Mundial.

  Ainda na questão do transporte, deve-se salientar que faltam portos. Em todo período de safra agrícola, filas extraordinárias de caminhões (ferrovias amenizariam o problema) se põem em direção ao Porto de Santos, cargas são perdidas e encomendas chinesas bilionárias são canceladas. Falta acesso fácil aos portos, o que explica a opção dos produtores do centro-oeste escoarem suas mercadorias pelos portos do Sudeste e não pelos nordestinos e nortistas. Faltam estradas de qualidade, duplicações de rodovias, suportes na beira da estrada para caminhões. Tudo isso onera bastante as empresas e trava o crescimento.


  Uma segunda questão são as recorrentes faltas de abastecimento de água por todo o território nacional e, por incrível que pareça, não é razoável supor que seja apenas culpa das condições naturais. O Brasil possui 8% de todo o volume de água doce do mundo. Se tem um lugar onde seria improvável a ocorrência de problemas dessa natureza é o nosso país, mas, mesmo assim, a falta de infraestrutura nos submete a esses algozes. Existem várias técnicas de engenharia para transposição e abastecimento de água. É claro que a seca, a falta de chuva contribui em muito para este cenário, mas o homem pode ao menos amenizar bastante a situação e, para isso, faltam investimentos. As companhias não estão preparadas e é tarefa do governo garantir o abastecimento de água para a população. O Japão é extremamente preparado para receber um terremoto e, algo que parecia ser inevitável se tornou, com investimentos, bastante possível.


  A falta de água afeta, mais do que se imagina, a produção e o crescimento. Com um eventual racionamento, as indústrias são obrigadas a trabalhar com capacidade reduzida, e a agropecuária, grande linha de frente de nossa produção, com grande participação no PIB, sai muito afetada com tais entraves. Qual incentivo há para um investidor colocar seus ativos em um país estruturado desta maneira, que não consegue lhe fornecer o básico?


  Além da falta de água e, junto com ela, vem a gravíssima falta de energia. Quando o nível dos reservatórios baixa, as hidrelétricas deixam de operar com normalidade e, com isso, há queda na produção de energia e prováveis racionamentos. A essência deste problema é a dependência das hidrelétricas. Não há diversificação de matriz energética no Brasil e quando há alternativas, são por meio de termelétricas, muito mais caras e poluentes ou investimentos pequenos em outras fontes, mas que apresentam problemas de gestão. Um exemplo, é o caso de postos de energia eólica no nordeste que já estavam prontos e gerando energia, mas não havia as linhas de transmissão. O gráfico abaixo evidencia este problema de falta de diversificação de fonte energética no Brasil. O problema é tão grave que quando falta água, falta energia e, dessa forma, como nossas indústrias e empresas em geral, produzirão? Como nossa agricultura cumprirá o seu papel? As indústrias estão dando férias coletivas para seus funcionários, e a falta de energia e água é um grande contribuinte dessas ações.

Fonte: Energy Information Administration, 2008

  De outro ponto, há a ausência de infraestrutura humana. As escolas e faculdades não conseguem “produzir” bons profissionais. O governo e as empresas são feitos estritamente de pessoas e, se estas estão preparadas, tudo correrá com perfeição. Não podemos esperar logísticas e estruturas eficazes se nossas universidades exibem problemas e incríveis faltas de estrutura. A mão de obra também é um fator de produção e o Brasil não parece estar investindo nela.
  Ao lado de todas essas engrenagens quebradas, temos um ambiente fiscal e político que afasta as unidades produtivas em nosso país. Impostos e juros altos, mesmo que necessários, corrompem a estrutura de empresas e indústrias, travam o crescimento e afastam investidores. Podemos ver no gráfico abaixo a correlação entre carga tributária e PIB no Brasil. O coeficiente de correlação entre as duas variáveis é 0,78, demonstrando uma relação impressionante e comprovando a trava no crescimento que os impostos efetuam, seja comprimindo o consumo, seja minando o investimento. A carga tributária bruta trimestral total foi obtida junto ao IPEA. O PIB real foi obtido junto ao IBGE. 

Fonte: IBGE/IPEA.

 A burocracia, os desvios de verba, a falta de estabilidade regulatória e o não cumprimento dos contratos evidenciam a os problemas por debaixo da falta de infraestrutura. Esses elementos servem de cenário para uma situação caótica, demonstram falta de infraestrutura fiscal e representam um quadro negativo para o investidor produtivo.


 Por outro lado, o governo tem dado indícios de que se preocupa com a infraestrutura nacional. Esses indícios se manifestam por meio dos Programas de Aceleração do Crescimento, as concessões para portos e aeroportos, transposição de rios, construção da ferrovia Ferro Norte, além de ampliação de fontes energéticas. Por exemplo, o IPEA apontou falhas no modelo de privatização das ferrovias brasileiras, indicando uma falta de estímulo de investimentos, não propiciar melhor utilização da malha ferroviária e não permitir concorrência entre as concessionárias. “Há realmente problemas nos modelos, mas que estão sendo discutidos. Desde que o governo apresentou um novo plano, as concessionárias, os investidores, agências passaram a dialogar. Isso é uma esperança de chegar a um modelo atraente para todos”, afirmou Rodrigo Vilaça, Vice-presidente de relações institucionais da Associação Brasileira de Logística.  Essas iniciativas podem representar perspectivas positivas para o futuro, isto é, se os desvios de verba e a burocracia não atrasarem nem onerarem demais tais projetos.


  Com essa análise, pudemos perceber que nossa infraestrutura é realmente falha e quais são os fatores responsáveis por tamanha improbidade. Pudemos apresentar uma combinação de fatores que afasta o investidor, o produtor e a competitividade do Brasil. Este não é um país para se aplicar investimento físico no momento, não é um país que crescerá antes de mudanças cruciais. O investimento privado cai, levando a produção e derrubando a economia. O gasto público se eleva, num cenário de Crowding-out, sinalizando um aumento preocupante da participação de um governo leviano nos investimentos. Falta investir corretamente, dando prioridade à infraestrutura, pois o crescimento econômico depende dela e este é o nosso desafio para os próximos anos.

   
*Graduando em Economia-UFF

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